- Por Marcos Tosi - Gazeta do Povo
Ele morreu há dois anos, mas continua a “fazer filhos” de
Norte a Sul do país. Da raça Nelore, nenhum outro touro do mundo ameaça o
recorde alcançado pelo falecido “Backup”, que em vida gerou mais de 460
mil bezerros. Outros milhares ainda vão nascer até que se esgotem as
doses do sêmen desse campeão de genética nascido 2001 em São José do Rio
Preto, no interior de São Paulo, que faleceu de morte súbita em
fevereiro de 2016.
Como acontece com alguns “gênios da raça”, Backup rendeu muito
dinheiro aos donos de seu passe. Ele movimentou uma receita bruta de
pelo menos R$ 60 milhões pela venda de 1 milhão de doses de sêmen. Se
for contar em carne produzida, seus 460 mil filhos renderam 124 milhões
de quilos. Grosso modo, a preço de coxão mole (R$ 23,00/kg), isso
significaria um faturamento no varejo de R$ 2,85 bilhões.
Não sem motivo, o busto de Backup foi empalhado e está hoje pendurado
na parede da sede da empresa de genética bovina CRV Lagoa, em
Sertãozinho. Curiosamente, mesmo sendo pai de 450 mil filhos, Backup
nunca chegou a namorar uma vaca de verdade. Todo o sêmen produzido foi
retirado por meio de uma vagina artificial.
Na linguagem genética bovina, Backup era prepotente, e isso é uma
virtude. “Era um prepotente, ou seja, tinha a capacidade de imprimir
muito de suas características aos descendentes, independentemente do
rebanho ou da vaca escolhida”, aponta Caio Tristão, gerente da CRV
Lagoa.
Eternizado
Backup é o recordista mundial e provavelmente jamais será superado.
Basicamente porque houve uma mudança de enfoque dos grandes criatórios
de genética bovina. “Nossa grande preocupação é a renovação da bateria.
Se ficar só na dependência dos mais antigos ou mais maduros, a gente
está sendo contraproducente. A tendência é de não haver novos
recordistas, até porque temos que acelerar o melhoramento genético”,
explica Tristão.
Rafael Jorge Oliveira, gerente de Corte Zebu da Alta Genetics, diz
que atualmente o marketing das empresas busca valorizar mais o trabalho
dos criatórios – um portfólio de sêmen de alta genética – do que os
campeões das pistas de feiras, que viram celebridades bovinas. “Um líder
de sumário hoje é até mais valorizado do que um campeão de pista”,
assegura. “Estamos buscando explorar mais a imagem do produto do que do
indivíduo. Ou seja, tentamos vender primeiro o trabalho do criatório e
depois bater na imagem do touro”, enfatiza Oliveira.
Mas não tem jeito. Talvez nenhum boi quebre o recorde de Backup, mas
sempre haverá touros que saem do anonimato entre milhões de consortes e
garantem o lugar no hall da fama bovina. O touro Rem USP, por exemplo,
da fazenda Remanso, do município sul-mato-grossense de Rio Brilhante,
vendeu US$ 104 mil em ampolas de sêmen em 2016 e outros US$ 110 mil em
2017. E continua na ativa, para alegria do seu dono.
Apesar de os nativos mais famosos serem Nelores, a maior demanda,
atualmente, é pela genética Angus. Os bois dessa raça respondem por
metade das 8 milhões de doses de sêmen vendidas anualmente no país para a
bovinocultura de corte. Cerca de 70% do total é importado.
Os criadores chegam a pagar R$ 1500 por uma dose de sêmen do touro
argentino Zorzal, o Angus que mais fez sucesso nos últimos anos. “Quase
já não existe mais sêmen dele. O Zorzal era excepcional. Mas por R$ 100 é
possível comprar uma ampola de sêmen de belíssima qualidade, e tem
touros comerciais que custam de R$ 12 a R$ 15 a dose”, assegura José
Roberto Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus.
O touro Backup, recordista da raça Nelore, é do mesmo ano de
nascimento (2001) do recordista mundial de inseminação artificial, Toy
Story, um boi americano da raça holandesa que morreu um ano antes do
bovino brasileiro, em 2015. Toy Story vendeu 2,4 milhões de doses de
sêmen e gerou mais de 500.000 filhos em 50 países. “Com a prevalência
atual da tecnologia de avaliação bovina baseada em genoma, é provável
que nenhum outro touro alcance os números de Toy Story”, disse Keith
Heikes, diretor do criatório americano Genex.
Ou seja, Backup e Toy Story estão no panteão da história bovina. Para sempre.
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